É FREVO, MEU BEM!
(Leonardo Dantas Silva)
Não sei se devo, ou não devo dizer, mas digo afinal:
– Se até Roma fosse o Frevo, teria a Bênção Papal!
(Austro Costa)
(Leonardo Dantas Silva)
Não sei se devo, ou não devo dizer, mas digo afinal:
– Se até Roma fosse o Frevo, teria a Bênção Papal!
(Austro Costa)
No bairro recifense de São José, um clarim ecoa dentro da noite.
Seguem-se o rufar dos taróis, a cadência binária do surdo, os acórdes dos metais e a marcação dos tubas.
À medida que o cortejo se aproxima, sentimos a presença das palhetas (requinta, saxofones e clarinetas), como a responder um diálogo com os metais.
De todas as partes aparece gente.
Nas ruas estreitas do poético e tradicional bairro recifense, homens, mulheres e até crianças correm dentro da noite, aos tropeções, com um sorriso nas faces e uma demonstração de felicidade, produzidos, como que por uma mágica, por aqueles acordes ainda distantes.
Velhos abrem as portas de casas estreitas, passando a caminhar apressadamente pelas calçadas. Quem não pode se locomover, fica apreciando a multidão das janelas e das sacadas das varandas. Parece que a loucura tomou conta do mundo.
– É ele que vem...
– É Vassoura, arreparem os foguetes!
– Está na Rua das Calçadas, vamos atalhar pelo Beco do Sirigado...
Um estandarte, bordado com fios de ouro e cheio de lantejoulas e pedrarias apliocadas, preso a uma haste de metal de cerca de três metros, encimado por duas “vassourinhas”, cruzadas, parece flutuar, em plena noite do Recife, com suas evoluções sobre multidão heterogênea. Não tem mais o que discutir: é o Clube Carnavalesco Misto Vassourinhas que sai de sua sede em mais um dos seus ensaios de rua.
A multidão vai se avolumando, comprimindo-se, já tomando direção da Rua Direita, enquanto os acordes de um binário sacolejante tornam-se mais presentes e colocam o povo em alvoroço: homens abraçados uns aos outros, outros sozinhos fazendo complicados passos, enquanto no meio da onda já aparecem dezenas de sombrinhas.
Pernadas, cotoveladas, pisadelas e empurrões não são sentidos em meio a tal confusão. Os demônios tomaram conta das ruas, antes tranquilas e até soturnas. As mulheres vão chegando e logo retiram os sapatos e sandálias, para com eles calçarem às mãos, enquanto procuram um lugar “menos pesado” na frente ou no “rabo” do clube.
É Vassouras no bairro de São José; o frevo tomando conta do mesmo Recife que o viu nascer, fazendo ferver as ruas que lhe serviram de berço. Ou como diria um homem do povo:
– É Vassouras que vem frevendo!...
ILUSTRAÇÃO: Fábio Luna
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